![Show Menu](styles/mobile-menu.png)
![Page Background](./../common/page-substrates/page0017.jpg)
Desde enliio os aldeOes n!o tentara
m
msis
abandonar
a
estrada, antes que os
1
eus vinte e dois quilómetros se esten–
dessem ate ao melo dos pAntanos e dos
desUladeíros.
Quanto
R
Do
m
Afonso jamais !he ocor–
rera a idein de que os seus esfon;os parn
c.onduzir a obra, que acabava de ser rea–
lizada.
poderiam encontrar eco na capital
e valer-lhe a mais gloriosa
da~
reputa–
.;Oes. Foi o primeiro
a
ficar surpreendido
com a \dtura das colunas inteiras de elo–
gios que lhe eram dedicados; as fotogra–
fías da
h~róica reali:t:R~il.o
ornavam a pri–
meira página dos jornais da Repíiblica
tr:ndo
no
primeiro plano o proprietlirio,
o cura, o Jacinto, o vesgo Rodríguez e os
irmños Ruata. No segunrto plano apare–
ciam os habitantes de Tomachi, repre–
sentando
a
massa dos tr..
balhador~s.
Quanto aos Indios. nao resta dlivida, que
n4o
esuwam presentes no momento pre–
ciso em que os fotógrafos operavam.
Dc:!';penteados
e
imundos, nao foram jul–
gados dignos de \figurar no palco da
glória.
*
estd::n~i~~a~~b~~ca~~~g~~jod~
8
:i~.p~~~~
reputa~ao
de ser rico. Sem díivida por·
:~~C~li~
1
shad~
0
1~
0
d~nl~s!eiaiS:,an~
0
fu¿::'~~
sua cabao:'!, possuia urna boa capoeira e
urna vaca com
um
vitelo. Talvez, também,
porque tinha sido designado benemérito
para a
se~unda
festa
d~ ac~iio d~
gra–
~as
oferecida pela alde1a
~
sua V1rgem
padroeira. Efectivamente era ela quem
tinba permilido acabar a grande obra
nacional empreendida.
Cabascango entrou com alguns com–
panbeiros, o
~ndré,
o José Tacbi, o. Me\
4
chior, o Ach1gre- e outros na lo]a da
mulher do Jacinto.
O
futuro doador pediu
dois reais de guarapo e todos beberam,
ll
pressa, porque precisavam de encon–
trar o senhor cura, para tratarem da (esta.
Bruscamente, o barulho do rio enC'heo
,a planicie.
O
bramido a\ongava-se e a voz
amea~adora
da montanha inteira fazia-se
ouvir pela boca do barranco por onde
corria a torrente.
Os Indios assustados levantaram a
cabe~a
e
sentiram o
:~proximar
da tragé–
dia.
A
brisa, carrl!gada de u
m
odor de
terra revolvida, elevou-se.
- A
cbeia! gritou um deles. Centenas
de vozes desesperadas ecoavam no vale.
En~uc:ue~~i~os,
os Indios sairam das
cabanas com os guaguas.
,A'
sua volta, as
coisas tomaram um aspecto terrlvel.
A
Agua 111macenta quebrava-se com fragor
de encontro
~s
rochas nuas das margens.
Ao longe, ouvia-se o enorme rugido do
rio. De toda a parte surgiam
~ndios
que,
!~
1
!:~~
0
cat~~
0
a~,d::~6ri~~~~s~~~~n~~:.~~
O
~co
repercutía os gritos, amplificava-os,
multiplicava
4
os. A
é.~ua
barrenta lambia
jé. o solo das primeiras cabanas. Todos
tinham a vista como que preR:ada sobre
as
vagas. NAo havia obsto\eulos para elas.
Por instantes
u
m grito ressoou acima
do tumuhu. Era de urna India que só
enti!.o se lembrara que tinha deixado, na
fuga precipilada, o seu pequeno guagu.a
oa cabana. Era demasiado tarde. Desa–
too a
~rilar.
Inüh-is, os gritos ecoa–
vam sobre a superlfcie das aguas lama
4
centas, das liguas que cobriam as margens
e cre,.ciam impiedosas, todas cobertas de
e'puma.
- Ai
1
Ai
1O
meu pequen
u
estli lá e
m
bai.~:o.
- Ai 1O meu dio está lá em baixo.
A SEPULTURA DOS INDI OS
- A.i 1 O meu pai
est~
lá em baixo.
_A
ligua crebcendu, OQdulava e prosse–
gu¡a o seu curso ante
a
multidiio
aterr~tda.
Urna porta de estrebaria elevou-se por
momentos no come duma vaga. Oepois
seguiu o movimento da onda que se abriu,
fechou e se abriu de novo; cada vez que
a fix11vam com os seus olhos embrute–
cidos, os lndios estremeciam.
Urna cabeleira apareceu na torrente
tumultuosa. Os Indios tentaram
Jan~ar
um
la.;o que tocou o turbilhiio e se perdeu
nos tufos de ervas que a corrente tinha
arrancado.
- De quem será este guagua?
-Talvez do Tim6teo.
-Ou do José.
- Ou do Manuel.
-Ou da mulata.
Depois, um siléncio
abafadi~o
caiu
sobre
a
muhidii.o. A cheia, implacivel,
arrastava na espuma e na lama cabe¡;as
de gado, cabanas demolidas,
crian~as
e
alguns Indios surpreeodidos na passagem.
De repente alguém exclamou:
-Vamos lá abaixo ao vale:
lá
o rio
estende~se
por toda a parte. Forma urna
praial
-Vamos!
-Vamos-!
O circulo de terror que os mantinha
unidos desapareceu ante a
esperan~a
de
salvar ainda alguma coisa. Ansiosos,
obse~
cados, inconscientes, precipitaram·se
desordenadamente. Desceram o declive,
caindo, levantando-se, voltando
a
cair,
levantando-se ainda. Era urna correria
louca
A
procura de crian,as, velhos, res–
tos de buasipungos. Corriam através dos
campos de milho, dos pomares, saltando
por cima dos va lados.
Diaote dos pantanos, a sua energia
duplieou
4
se. Pouco lhes importava agora
afundarem-se na lama até os joelhos;
pouco !bes importava entrarem na água
até. lis ancas -a agua da cheia que tinha
entulbado as mais pequeoas depressOes
de terreno- pouco !bes importava a dis·
té.ncia. Tinham
a
certeza de encontrar
alguma coisa do que !bes tinha perten-
cido.
•
No sitio onde o rio nao tinha margens
e se espraiava no vale como um trapo la–
macento, encontraram cadáveres, destro–
~os
que flutuavam sobre a torrente
<~mai~
nad~t.
Por entre
lameota~óes
sem fim,
entraram na lama até
ll
cintura para de
lá sairem alagados. Nas caras das vlli·
mas, a tragédia da morte tinha deixado a
sua marca. Nos olbos abertos lia-se a
mesma express3.o de espanto. Entiio, os
sobreviventes puseram-se a chorar e,
quando a noite calu, os solu(fos nao
tinham ainda terminado.
SOmente o grupo dos Indios que tinha
acompanhado Cabascango nii.o se
deix.ooarrastar para o vale. Nenhum deles tinha
ainda ousado esbo,ar um gesto e ('sta–
vam ali, pa!imados, como sb formassem
urna assembleia de cadáveres. O José
Tachi, o .Melchior Achig,o Leonardo Taco
e Cabascaogo, niio acredita\•afu no que
viam com os seus pr6prios olhos.
0.!1
habitantes de Tomachi
e~peraram
duran le algum tempo o plio, a vida fácil
e o pi-ogreuo que lhe tlnham prometido
aqueJes que os tinham induzido a traba–
lhar na er;trada. Dc:poit perderam toda a
uperanc;a.
E,
durante esse lempo foram
felize!l. Urna ideia com efdto nlo os
abandonava : a das felicidades fu turas
qoe os e¡..peravam.
Eles e os Indios tinham construido a
estrada que !le estendia como
urna
tatua–
~em
ao pé da montanha. O senhor cura
Lomas, tinha comprado dols camiÓc:.!l e
urna camioneta de: passagdros.
A
viagem
eostava um sucre por pe.!lsoa e cinco
reais por um quintal de mercarlorias.
E os almocreves, que constituiam nove
lB
d~clmos
da
popui11~Io,
era
m
abandonados
com
as
~ouas
mulas nas mangc:doiras.
Para
e~ttes
u:io havla m;,is carga a tra–
zer nem ma1s comissOes a fazer.
E
nin–
gue.m p11ra comprar as mulas.
- <.:aramha
1
murmurou Melchior.
Co~ava
a
cabe'::~
diante da portll
d<~.
sua
cabana ao recordar a sua vida de almo–
creve. Via·se ainda trazendo de: Quito
os guaguas que, com
HS
suas blU!>il§ de
cor, ornadas de rendas sobn: o pei1o,
fatiam a
admira~llo
de toda a
viúnhan~a.
Agora, nao tinha nada com que alimentar
os mai11 novos, os único' que Jhe rc:stavam.
0!1
grande1<
1
nllo querc:ndo pa ..sar fome
em casa, tinham fugid<A:om
o<~
criados
da aldeia que, nAo tc:ndo trabalho, o i<om
procur11r a Quito.
-E
eis para o que
a
e1otrada nos ser–
vi
u, murmurou em voz alta. A .. rilhas rte
.Júlio e de Alllon, nll.o tardar!o a br:guir
o mesmo cam1nho que a!> mlnhas.
As
mé.s
linguas
aflrmav<~m
que duas
~~~~r~~l ~~e~~~~~~. ~~~~¡¡;;C~~~¡¡~ d:il~¿~::
um pouco ma1s-1arde,
cm
San Oiego com
a
negra loácia. l.!>lo era,
<~lih,
m...
is que
veros!mil. Quando a Dvlorita.. vinha ver
os p11is quase todas as semanas,
tr~ozi::~
a
cara pintada e podia
permttir~se,
ofc:recer
a sua mae trt:s ou qu<>tro sucre<;, com
que alimt:ntar os
gu~tguas.
E
nln¡.;uém
• lhe fahtva do marido e oinguém penuva
em !he perguntar donde vinha o dinhdro.
0.!1
labre~os
examinavam os campos :
-O
p~ttrl!.o
v&i ter agora unHt bela
colheita. Conquanto que ele nos d! boae
ajudn", a
nó~;,
os pobres. Com
a
cheia,
nós ficémos se-m nada.
:J
- Entiio, qut!rem levar a vida a pen
4
sar nisso"?- interrompea Policarpo.
Os l&bre¡!;oS sob a direc.;l!.o do mor–
domo, abriam urna brecha na cintura
doli campos de cevadn. Depois de tt-rem
bebido Um grande copo de aguardente,
voltaram a ceifar.
- Quando tiverem
se~
e nao ttm mais
que vlr beber u
m
tr&J!:O de1-ota boa chicha,
disse o Polic8rpo, ins!alando·se sub re os
barris, enquanto os aldr:ót!s
~;e
embre–
nhavam no imenso campo de cevada,
Inclinados para as
e~ptgas,
manejavaro
as foices como mandibulas dt:
ferro.Comos rins doridos, apetecia-lhes levanta–
rem-se nem que
fos~e
por um segundo;
levantarem
4
se e, com as mlios na cintura,
espregui~arem
4
se.
Mas a voz avinhada
do mordomo, sentado nos barris como
um
chacracoma
encarregado de espan1ar
os pá<;saros do tecto da sun cabana de
madeira, tornava imposstvel a menor
pausa.
-- De!lpachem-se, caramba!
Os corpos inclinaram-se ao mesmo
tempo como que dobri!dos por um fura–
clio. As foices tornavam·se cor derogo,
os dorsos escorriam suor, o sol mordia
as espllduas como um ferro em !Jras:t,
E
a chicha agravava
a
sede.
Ao meio·dia, montado na •Nrgrn,
o
patrao apareceu na orla do campo. Sobre.
os barris, o mordomo meio btbado dor•
mitava.
- Olhem para isto, caramba
1
Eis urna
bonita maneira de vigiar, e.xclantou
Dom Afonso ioterrompendo o sono de
Policarpo.
- Patrlio, patrlio! gaguf]ou o homem
levantando-se
mas
sem pc:rceber alnda
donde vinba a voz.
- OJhem para ele, caramba
1
Nem
sabe o que lhe vai acontecer. Dormías,
hem?
- Nlio, patrlio, isto agora vai melhor.
-Como
e
que a chicha bá.-de cht·gat'
para toda a sega
1
- Há
muitos Indios que chegar:tm
para o trab11lho, patrl!.o.
-E' preci1io que hlo acabe. Eu estO\\
decidido a nio d1spender nem mais um